terça-feira, 17 de agosto de 2010

Serra queria ser Brizola; vai virar Cristiano Machado

Republico aqui um artigo do jornalista Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, sobre o surto “brizolista” de José Serra, do qual tratei ontem aqui. Serra, como Fernando Henrique, fez parte de uma geração formada nas lutas nacionalistas. Fez. Hoje, como seu mentor, serve à direita. O que os fez mudar. Uma só coisa: a ambição.

Serra deu mais uma declaração que revela o grau de confusão mental dos tucanos nessa campanha. O tucano disse que aprendeu a falar no rádio com o Brizola! Disse isso lá no sul! Um agrado ao brizolismo. Uma tentativa de capturar votos brizolistas… Triste.

O velho líder gaúcho deve ter revirado na tumba de São Borja, onde descansa ao lado de Vargas.

Os tucanos não vão perder só a eleição. Vão perder o discurso, o programa, e o que sobrou de vergonha.

Quando eu era 20 anos mais jovem, o grande programa dos “intelectuais” que dominavam as Ciêncas Humanas na USP era desmontar a “herança populista”. Vargas, Brizola, Jango eram considerados “cafonas”. A turma dos punhos de renda chegou a fazer a cabeça de Lula durante algum tempo. Weffort era o principal teórico do “populismo”. Para essa turma, Brizola, Janio e Ademar eram a mesma coisa – vertentes do mesmo “populismo”.

Weffort chegou a ter cargo de direção no PT (que ele e os amigos dele na USP enxergavam como uma alternativa “autêntica”, e não-populista, ao brizolismo). Depois, bandeou-se para o tucanismo, no governo FHC.

O PSDB tentou desmontar a herança de Vargas. FHC disse – num discurso pouco antes do início de seu primeiro governo – que esse era o objetivo dele: enterrar Vargas. E tentou. Chegou a planejar a venda da Petrobras. Só não foram adiante os tucanos porque o povo resistiu na rua. A Argentina cumpriu o programa na íntegra. Os tucanos, sempre muito moderados, ficaram pelo meio do caminho.

Serra, em 1950, quando concorreu com o nome de Cristiano Machado
Agora, tentam se reaproximar da herança de Brizola. É vergonhoso. Tenho um amigo que, em 2006, votou no Alckmin no primeiro turno – convicto. Como o candidato fez aquele papelão no segundo turno (vestiu-se de “estatista”, com adesivos dos Correios, Petrobrás e BB), meu amigo mudou o voto. “O cara não é capaz de defender o programa do partido dele, vai defender o que no governo?”

Serra vai por esse caminho… Sinto até alguma pena do Serra. Não pelo que ele é, mas pelo que já foi. Nos anos 60, era um aliado de Jango. Foi pro exílio. Na volta pra democracia, renegou o passado, e agora vaga pelo Brasil sem programa, sem história. Vazio. A defender mutirões para cirurgia de catarata! Esse é o programa dele? Não, é só metade. A outra metade é falar no rádio como o Brizola!

Brizola morreu sem nunca chegar à Presidência. Mas tem um lugar na história.

Serra, abandonado e vazio, caminha para se transformar num Cristiano Machado – o candidato do PSD em 1950, rifado pelo partido (que preferiu apoiar Vargas).

É esse o caminho, triste, de quem joga a história no lixo.

Brizola não é bóia pra salvar o Serra. Vivo, Brizola estaria (apesar de todas as críticas ao governo Lula – críticas feitas sempre pela esquerda!) ao lado de Dilma. Sabia escolher o lado do interesse popular… Sem titubear. Como fez em 61, como fez em 89, no segundo turno, com apoio total a Lula.

Dilma, quando terminou a ditadura, passou a militar no PDT. Só mais recentemente migrou para o PT.

Não poderia haver um símbolo mais forte para esse reencontro entre o PT e o PDT, entre o lulismo e o brizolismo. Dilma é o resultado desse reencontro.

Serra, não. Serra é só Cristiano Machado.

Nenhum comentário: