sábado, 28 de agosto de 2010

As mulheres e a vitória de Dilma no 1º turno

Depois da entrada do programa de televisão dos candidatos em 17 de agosto, houve uma virada no quadro eleitoral. As pesquisas passaram a apontar como horizonte provável a vitória de Dilma Rousseff no 1º turno. A base dessa transformação deu-se no “primeiro colégio eleitoral” do país, ou seja, as mulheres, que representam 52% dos eleitores.

Entre eleitores do sexo masculino, há um mês Dilma Rousseff já vinha apresentando tendência de ganhar no 1º turno (Ibope, 29 de julho), mas foi a pesquisa Datafolha de 24 de agosto que apontou a possibilidade de a candidata vencer no 1º turno, tanto pelas intenções de voto dos homens (58%) como das mulheres (52%).

Antes da TV, (Datafolha, 12 de agosto) a maioria dos votos válidos dos homens colocava Dilma Rousseff na perspectiva de vitória no 1º turno. No entanto, esse patamar ainda não havia sido atingido por vários segmentos do eleitorado, como o das regiões Sul, Sudeste, Norte e Centro Oeste, dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná e das cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Dilma Rousseff também estava longe de alcançar os homens de escolaridade superior.

Com o impacto do horário eleitoral, a candidata do PT não apenas consolidou sua votação entre as mulheres do Nordeste, de 54% para 67% dos votos válidos, como passou a ter maioria em vários segmentos estratégicos, como o interior do Brasil (55%), o estado de Minas Gerais (54%) e, sobretudo, os jovens eleitores (57%).

Em outras palavras, a virada entre mulheres, dando maioria dos votos válidos a Dilma Rousseff, ajuda a questionar análises de que o perfil do eleitorado da petista tinha como características predominantes a classe social e a região. Agora, não só Dilma pode eventualmente ganhar no 1º turno em vários segmentos femininos (ver tabela) como, depois do impacto do horário eleitoral, Dilma Rousseff supera José Serra no voto estimulado, no conjunto dos eleitores, em todas as regiões e nos principais estados pesquisados.

O clima eleitoral também virou em favor de Dilma Rousseff depois do horário eleitoral. Em 12 de agosto, 49% achavam que ela iria ganhar a eleição; em 24 de agosto, já são 66% os que acreditam na vitória de Dilma Rousseff. O favoritismo de José Serra caiu de 25% para 17%.

A propósito, o programa eleitoral de Dilma Rousseff na TV é visto como o melhor pela maioria dos que o assistiram, homens (56%) e mulheres (52%). Já os programas de José Serra não corresponderam às expectativas de seus próprios eleitores, sendo avaliado entre os melhores por 26% dos que os assistiram.

Vale notar que a votação de Marina Silva manteve-se no patamar de 10%, ou seja, o pouco tempo de televisão e os conteúdos de seus programas ainda não sensibilizaram os eleitores.

As mulheres são maioria dos que ainda vão decidir

Estamos a 35 dias das eleições e 38% dos eleitores ainda não definem nome de candidato de forma espontânea. As mulheres representam 61% dos que ainda vão decidir. Provavelmente serão elas que definirão a configuração de vitória de Dilma Rousseff no 1º turno ou a definição em um 2º turno.

Como vemos no gráfico, Dilma Rousseff continua tendo mais votos masculinos do que femininos. Desde o início da campanha a candidata petista agrega mais votos de eleitores do que de eleitoras. As mulheres continuam sendo o segmento estratégico para a definição final desta eleição. Eleição que tem o signo das mulheres.

Análise realizada a partir de reprocessamento inédito das pesquisas sobre intenção de voto do Datafolha. A produção de tabulações especiais foi realizada pelo Datafolha com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão, aplicando um filtro por gênero para separar os dados de homens e mulheres para todos os segmentos da amostra.

Este documento foi elaborado no contexto do Projeto Mulheres em Espaços de Poder do Instituto Patrícia Galvão, que tem o objetivo de analisar a percepção das mulheres enquanto eleitoras, com base nos levantamentos sobre intenção de voto realizados por institutos de pesquisa de opinião.



Colaboraram as pesquisadoras Ana Carla de Sá e Paula Cabrini (Perfil Urbano) e as jornalistas Marisa Sanematsu e Jacira Melo (Instituto Patrícia Galvão).

Fátima Pacheco Jordão é socióloga e especialista em pesquisas de opinião. É assessora de pesquisa da TV Cultura e diretora do Instituto Patrícia Galvão.

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