sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A oposição, pronta pra perder

Há poucas dúvidas sobre quem vai ganhar a eleição presidencial.A candidata oficial , segundo todas as pesquisas, está mais de 20 pontos na frente do principal candidato da oposição. Dificilmente perderá.

Esse é um motivo de júbilo para os que acreditam que a democracia se expressa no pensamento da maioria.E, de fato, essa é a essência da democracia- a reiteração da vontade expressa da maioria,que aprova o governo e lhe concede salvo-conduto para que ele continue executando a política que as urnas estão prontas para ratificar e consagrar.

Por que, então, esse incômodo com a situação que as urnas estão prontas a legitimar? Se o povo quer que essa situação continue, quem tem legitimidade para se opor?

Essa é a leitura rasa da democracia: um não quer,mas dois querem. Dois são mais do que um,e portanto ganha quem tem mais.Opor-se à vontade da maioria seria uma tentativa golpista de anular a sua vontade e sobrepor a ela a vontade da minoria.

Não é tão simples.

Claro como água que a vontade da maioria deve se impor.Sobre isso,não há dúvidas.A candidata escolhida pela maioria prevalecerá e ninguém vai impedir que ela forme seu governo e execute a plataforma que defendeu durante a campanha eleitoral.

O problema é mais sutil.A democracia é um regime que s fundamenta no sistema de check and balances, uma formalização sistemática da imposição dos pesos e contrapesos, cuja principal finalidade é evitar que a prevalência da vontade da maioria signifique o esmagamento da expressão política da minoria.Ou seja: a maioria fica legitimada pelo voto a aplicar o seu programa de governo,mas nem por isso está autorizada a esmagar e anular a expressão da vontade da minoria,com quem deve interagir através de alguma forma de diálogo e de concessões democráticas, exatamente em nome desse equilíbrio.

Esse é,claro,um pressuposto de democracias maduras.Seria muito otimismo acreditar que estejamos prontos a aplicar essa práxis no nosso incipiente estágio de evolução democrática.É mais fácil acreditar que os vencedores estejam preparados a tripudiar sobre os vencidos do que a conceder-lhes o crédito por pressupostos universais, politicamente válidos para ambos os lados.

O fato é que a oposição política brasileira está gostosamente pronta para perder as eleições porque não se preparou intelectualmente nem programaticamente para ganhá-las. Não conseguiu contapor nenhuma Ideia fundamentalmente mais sólida às idéias hegemonicamente impostas pela situação.Não soube avançar nem um passo sequer além do triunfalismo inconseqüente do governo e não conseguiu propor nenhuma idéia mais sólida do que o assistencialismo e o paternalismo que se impuseram como política oficial. Como alternativa para um Bolsa Família, a oposição não conseguiu formular uma proposta melhor do que um Bolsa Família e meia.Para um discurso de Lula,não soube apresentar mais do que um discurso de um Lula e meio.A oposição se preparou com muito empenho para uma derrota, e está pronta para colhê-la,por não ser capaz de propor uma alternativa melhor.Vai perder, e não lhe falta merecimento para isso.

Só lhe resta, agora, lutar para não permitir que desapareçam as salvaguardas que evitem a sua extinção total, embora não tenha conseguido fazer por merecê-las.



Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez..

Nenhum comentário: