sábado, 21 de agosto de 2010

Serra em parafuso

Serra em parafuso

Em matéria de campanha eleitoral, minha curiosidade agora se resume ao seguinte: quem é, como surgiu, quando foi inventado e por que foi escolhido o marqueteiro de José Serra.

A iniciativa de colocar Serra na garupa de Lula valeria o prêmio de maior desastre em marketing eleitoral dos últimos 20 anos. Aliás, talvez valesse puxar pela memória e fazer uma lista.

Claro que não é esse erro que fez Dilma subir. Ela subiria de qualquer modo, por representar a continuidade de um governo com índices imensos de popularidade.

Mais uma vez, recomendo a esse respeito “A Cabeça do Eleitor”, livro do sociólogo Alberto Carlos Almeida, que demonstra em grande número de casos e exemplos a probabilidade quase certa de continuísmo nas eleições quando a popularidade de um governante é alta.

Mas se uma candidatura oposicionista estava praticamente condenada, desde o início, a perder esta eleição, isso não é desculpa para a malandragem tentada no horário político de Serra.

Dizer que a Dilma está tirando os méritos de Lula, está se apropriando da obra que Lula fez, como diz o jingle serrista, só não é totalmente malandragem porque é uma imensa burrice também.

Quem queria votar em Serra porque ele é oposição a Lula se sente traído. E quem é a favor de Lula percebe na hora que Serra está mentindo ao atrelar-se ao sucesso governista.

A estratégia é desonesta com quem é da situação e com quem é da oposição.

No fundo, o erro político de Serra vem de muito antes.

Fez a campanha situacionista na sucessão de Fernando Henrique. Apoiou publicamente um governo de cuja política econômica, no íntimo, ele discordava.

Ficou como candidato de oposição ao governo Lula, discordando mais do conservadorismo de seus aliados do que das linhas distributivistas e desenvolvimentistas de Dilma e Mantega.

Nos dois casos, preferiu criticar os aliados, nos bastidores, a dizer o que de fato pensa, em público.

O Ibope é o ópio dos políticos. Quando estava com índices altos de popularidade, Serra não se expunha; fez o mesmo que todos os outros, aliás. Quando começou a cair, não tinha nenhum discurso em que se segurar, e acaba caindo dos dois lados ao mesmo tempo. Cai porque é oposição, cai porque tenta fingir que não é oposição, cai porque gostaria de não ser oposição, cai porque gostaria de ser mais oposição mas acha que com isso cairia mais ainda.

A moral da história não depende, entretanto, das atitudes pessoais de Serra. É que, contra uma candidatura de centro-esquerda, chame-se varguista, populista, corrupta ou o que quer que seja, o lugar da oposição teria de ser ocupado por uma candidatura de direita, chame-se liberal, lacerdista, udenista ou o que quer que seja.

Esta iria provavelmente perder; mas o fato é que Serra não se encaixa nesse papel. Um candidato, mesmo derrotado, que seguisse o figurino de Lacerda poderia marcar posição e crescer daqui a quatro ou oito anos. Por estranho que pareça, a propaganda com Serra e Lula lado a lado expressa uma identificação real. Para falar romanticamente, a vida os separou... E

Enquanto isso, Tiririca apóia Mercadante, Serra tem de vice o Índio da Costa, a “social-democracia brasileira” obedece aos ruralistas e quem já foi leninista ou trotskista anda de braços dados com a bancada evangélica e a família Sarney.

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