Enviado por luisnassif, seg, 23/08/2010 - 09:44
Da Folha
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Pós-Serra SÃO PAULO - Nos últimos oito anos, José Serra foi o líder da oposição no país. A afirmação soa um pouco estranha. Talvez porque Serra não tenha sido nem propriamente um líder nem exatamente de oposição. O figurino do anti-Lula não lhe cai bem. Sua liderança tampouco foi incontrastável nesse período.
Em 2002, boicotado internamente, perdeu para Lula. Em 2006, apesar do mensalão, desistiu na última hora de disputar o Planalto, transferindo a Alckmin a tarefa solitária de amargar uma nova derrota. Em 2010, governador, voltou a submeter o partido ao seu roteiro. Não deu a Aécio a chance das prévias. Mas ficou sem o mineiro como vice.
A combinação das qualidades e dos defeitos de Serra desenha com grande nitidez os limites do que ele é e pode ser como político. De certa maneira, Serra é melhor e pior do que ele mesmo. A se confirmar o naufrágio anunciado da sua candidatura, deve-se perguntar -e agora, o que será da oposição?
Da forma com que se insinua a vitória de Dilma, deixa de ser evidente que a política continuará a se organizar segundo o padrão das últimas quatro eleições. A polarização entre PT e PSDB pode estar conhecendo o seu último capítulo.
Em parte, o futuro da oposição depende do desempenho do candidato de Aécio em Minas. Se Anastasia vencer, Aécio será o herdeiro da massa falida do PSDB. Caso contrário, sairá das urnas como senador, mas muito enfraquecido.
Vitoriosos, sobrarão apenas Alckmin e, provavelmente, Beto Richa no Paraná. É um quadro jovem e em ascensão, mas seu Estado pesa pouco politicamente.
Diante do rolo compressor governista país afora e no Congresso, o cenário que se desenha para o PSDB pós-Serra pode ser de ruína. Lembra um pouco aquele personagem de Paulo Emílio Salles Gomes, que olhava para trás e dizia: "Meus sonhos juvenis de suprema elegância, poder e cultura tinham se reduzido a um nível bem paulista". Pensando bem, talvez nem isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário