sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Onda de pessimismo varre partidos 'aliados' de Serra

Fonte: Josias

Uma bruma de desânimo envolve os 'apoiadores' da candidatura de José Serra

O discurso oficial da campanha de José Serra equilibra-se sobre uma camada cada vez mais fina de otimismo.

Na superfície, diz-se que: 1) A disputa com Dilma Rousseff segue “equilibrada”; 2) O resultado da eleição é “questão aberta”.

Abaixo da linha d’água, alastra-se o desânimo. Entre a noite de quarta (4) e a tarde desta quinta (5), o blog ouviu nove aliados de Serra.

São todos congressistas –quatro do DEM e cinco do PSDB. Dada a delicadeza do tema, falaram sob reserva.

Espremendo-se o que disseram, verifica-se que houve uma troca de prioridade na coligação que dá suporte a Serra.

Antes, dizia-se que Serra, por experiente e qualificado, prevaleceria sobre Dilma a despeito do apoio de Lula a ela.

Agora, afirma-se que o essencial é evitar que a candidata do governo vença a eleição já no primeiro turno.

Nesta quinta, saiu mais uma pesquisa. Segundo o instituto Sensus, Dilma abriu vantagem de dez pontos sobre Serra: 41,6% a 31,6%.

Embora ajude a adensar a atmosfera de abatimento que envolve Serra, essa sondagem, a terceira a atribuir vantagem a Dilma, não é a causa do fenômeno.

Entre todos os institutos, o Sensus é o que a oposição leva menos a sério. De resto, a pesquisa carrega em seu miolo inconsistências. Versado nas artes da leitura de estatísticas, o repórter José Roberto Toledo iluminou as incongruências num texto disponível aqui.

O que frustra o time de Serra é o contorno geral do jogo. Uma partida em que as arquibancadas parecem hipnotizadas por Lula. Um dos interlocutores do repórter, deputado do DEM, eleito por um Estado nordestino, desenhou a cena:

“Entramos em campo com a bolsa de apostar integralmente a nosso favor. Serra chegou a ter algo como 30 pontos de vantagem sobre Lula. Ainda no vestiário da pré-campanha, Lula modificou o cenário...”

“...Transgredindo todas as regras do regulamento, levou Dilma aos calcanhares do Serra. Imaginávamos que chegar ao horário eleitoral com uma dianteira, ainda que modesta. Hoje, o segundo tempo foi antecipado para o primeiro...”

“...No melhor cenário, temos um empate. No pior, perdemos o jogo para uma adversária que não mereceria atuar nem em equipe de várzea”.

Outro personagem ouvido pelo blog, é senador tucano. Evita-se mencionar o Estado e até região em respeito ao pedido de anonimato. O senador coloriu o quadro:

“No meu Estado, a associação com o Serra tira votos. Falar mal do Lula virou sinônimo de suicídio eleitoral. À medida que Dilma vai sendo associada a ele, falar bem do Serra também não rende votos...”

“...Tenho uma preocupação que se sobrepõe às apreensões nacionais. Eu preciso me reeleger”.

Outro entrevistado, deputado nortista do DEM, emoldurou a pintura: “Ainda que quiséssemos, não temos como fazer a campanha do Serra. Não recebemos do comando nacional uma única peça de propaganda. Verbas, nem pensar...”

“...Na verdade, não fomos contemplados nem mesmo com a cortesia de um telefonema. Do comitê do Serra, ninguém ligou. O candidato não se dignou a visitar a minha região. A essa altura, torço para que não ponha os pés lá”.

As queixas quanto à desorganização da campanha tucana são generalizadas. A crítica ao estilo centralizador de Serra, uma unanimidade. Recordou-se que o candidato não reuniu uma mísera vez o conselho de campanha, composto pelos presidentes das legendas que o “apóiam”.

A menos de duas semanas do início do horário eleitoral, marcado para 17 de agosto, parece improvável que Serra consiga injetar ânimo em sua tropa.

Ao avocar para si a definição dos rumos de sua campanha, Serra converteu-se numa espécie de cavaleiro solitário. O evento êxito só depende dele. Confirmando-se o infortúnio, os “aliados” se desobrigrarão de dividir responsabilidades.

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