Fiel da balança
De Merval Pereira
A candidata do Partido Verde Marina Silva continua sendo o obstáculo a que a eleição presidencial se resolva no primeiro turno, confirmando o temor do governo de que o seu lançamento poderia atrapalhar os planos de polarização da eleição.
Com a confirmação, pela pesquisa do Datafolha divulgada ontem, de que Dilma Rousseff abriu oito pontos de vantagem sobre José Serra antes do programa eleitoral do rádio e televisão que começa na terça dia 17, a manutenção de sua popularidade em torno dos 10% torna-se crucial tanto para o governo quanto para a oposição.
Ela está, sozinha, fazendo o papel que foi, na eleição de 2006, dos candidatos Heloisa Helena, do PSOL, e Cristovam Buarque, do PDT, que terminaram o primeiro turno com 9% dos votos somados, levando a eleição entre LUla e Alckmin para o segundo turno.
Dilma está a três pontos de vencer no primeiro turno, enquanto Serra mantém a esperança de virar o jogo contando com a realização do segundo turno.
Mantendo essa tendência de estabilidade, a candidata do PV consegue iniciar a campanha no horário eleitoral gratuito em situação favorável, para compensar o pouco tempo de exposição que terá.
E exorciza, pelo menos por enquanto, o perigo de ser atropelada ou pela polarização entre os candidatos do PT e PSDB ou, pelo radicalismo alternativo do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio.
Mesmo depois de ter se tornado a estrela do primeiro debate na televisão, ele não conseguiu ainda pontuar nas pesquisas, o que o coloca o PSOL em situação de não ter influência política na eleição até o momento.
Ao que tudo indica, a estratégia de campanha da candidata do Partido Verde continuará sendo a de se apresentar como uma terceira via para governar o país, recusando o clima de confrontação que domina a disputa entre PT e PSDB.
Ela está se preparando para superar com criatividade o pouco tempo de rádio e televisão que tem, e tentará convencer o eleitorado de que é a que tem condições de unir os melhores momentos dos governos de Fernando Henrique e Lula, sem a clivagem que predomina nas ações políticas de PT e PSDB.
O ponto central da estratégia política de Marina Silva é o que seus coordenadores denominam "realinhamento histórico da social-democracia brasileira", que não se limitaria ao PSDB, mas se estenderia ao PT, que sempre reagiu a essa classificação, mas já atua dentro desse espírito, mesmo que conserve atuante e influente um grupo político que ainda defende a implantação do socialismo, a exemplo dos dissidentes que fundaram o PSOL.
O próprio ex-presidente Fernando Henrique formulou a melhor síntese do "desalinhamento" entre os dois partidos que polarizam a política brasileira desde 1993 quando ele assumiu o Ministério da Fazenda e comandou a implantação do Plano Real:
"PSDB e o PT disputam para ver quem vai liderar o atraso".
A governabilidade de ambos é dada pelas respectivas alianças com o ex-PFL, hoje DEM e com o PMDB ou anteriormente com um conjunto de partidos fisiológicos via mensalão.
A intenção é dar a Marina uma “governabilidade” mais coerente, analisa Alfredo Sirkis, um dos coordenadores da campanha.
Ele vê diferenças de estilo nos dois partidos, mas dentro do espectro da social-democracia européia: “O PT mais do estilo do grande partido de origem sindicalista (SPD alemão, Labour, SD sueco) e o PSDB mais classe média (PS francês e português)”.
A campanha de Marina Silva acredita que há mais elementos programáticos em comum entre eles do que dissonantes. Mas uma feroz disputa de poder, e subjacente animosidade com epicentro na política paulista, impediria uma aproximação.
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