segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pai Nosso

Fonte: Blog do Noblat

E no sétimo dia, Lula descansou em São Bernardo. E relembrando fatos recentes concluiu que foram muito bons para Dilma, a Mãe do Brasil.

No prazo de uma semana, ela saltou em pesquisas do Datafolha de oito pontos de vantagem sobre José Serra para 17. A essa altura, a vantagem passou dos 20 pontos, segundo anunciará o Ibope hoje ou amanhã. E também o Instituto Sensus.

E Lula pensou assim: o que me resta fazer além de cuidar para que Dilma não fale besteiras, o PT e o PMDB não se engalfinhem desde já por conta de cargos no futuro governo, e nenhuma ação aloprada possa pôr em risco a minha obra quase perfeita?

Depois de refletir, decidiu: é hora de investir nos Estados para, se possível, reduzir a oposição a pó.

Em eleições passadas, o PT e seus sócios minoritários sempre acenaram com o fantasma de uma “onda vermelha”. Ela varreria o país de uma ponta à outra.

Era delírio. Mas não parece delírio que desta vez uma “onda lulista” e multicolorida remova de governos e do Congresso adversários históricos e desafetos pessoais do Grande Líder e do PT. Duvida?

O PSDB perderá o governo do Rio Grande do Sul. Perdeu o da Paraíba quando o governador foi cassado por abuso de poder econômico. Corre o risco de perder o governo de Alagoas. E de não ganhar o do Paraná, onde a vitória de Beto Richa (PSDB) já foi segura. Vencerá em São Paulo e Roraima. Deverá vencer em Goiás. Disputará o segundo turno no Pará.

Deram por falta de Minas Gerais?

Lula está convencido de que será barbada a vitória de Hélio Costa (PMDB). Com a ascensão de Dilma no Estado, foi pelo ralo a história de que Lula deixaria para Aécio o governo local em troca de mais votos para sua candidata.

Ganhar em Minas vale bem mais do que uma dúzia de missas (com todo o respeito). Compensará a provável vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.

O que será de Aécio, que em algum momento nos últimos dois anos jogou com a hipótese de se transferir para o PMDB e de ser aceito por Lula como seu candidato à sucessão presidencial?

Caso não eleja Anastasia (PSDB) governador, será um senador fraco. Por estilo, não baterá de frente com o governo. Dividirá seu tempo entre incursões ao Rio e conversas que o ajudem a disputar a vaga de Dilma em 2014.

O apetite de Lula não tem limites. E são muitos os pontos frágeis da oposição. Lula atacará todos eles com a autoridade de quem obteve um terceiro mandato por meio de Dilma.

Pará: Lula fará o que puder para garantir a reeleição da governadora Ana Júlia (PT).

Amazonas: Lula pedirá votos para derrotar Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado e candidato à reeleição. O governo poderá ficar com o PMDB ou o PR - para ele tanto faz.

Rio Grande do Norte: Lula almeja mais do que os 65% dos votos até aqui prometidos a Dilma. Maior, porém, é seu desejo de derrotar José Agripino Maia, líder do DEM no Senado.

Pouco se lhe dá que Rosalba (DEM) se eleja governadora. Ou que Garibaldi Alves (PMDB), aliado de Agripino, volte ao Senado. O alvo é Agripino, que teve o desplante de vencer Lula há dois anos elegendo a prefeita de Natal. Pode?

O Rio de Janeiro está no bolso de Sérgio Cabral (PMDB), aliado de Lula. O de Pernambuco no de Eduardo Campos (PSB), aspirante a candidato a vice-presidente da República quando Lula der o sinal para que ponham de novo o retrato do velho na parede – em 2014 ou em 2018.

Dilma não será um obstáculo ao retorno de Lula – nem mesmo se pegar gosto pelo cargo. Pense numa prévia dentro do PT para escolher entre ela e Lula...

Prévia é dispensável. Basta que a proposta de prévia seja apresentada. E que Lula não a desautorize.

Exagero?

Olívio Dutra era governador do Rio Grande do Sul e planejava se candidatar à reeleição. Foi atropelado por Tarso Genro, que teve força para promover uma prévia e vencê-la. Tarso perdeu a eleição.

Você vê alguém com pinta de que despachará Dilma em 2014? Alckmin abriria mão de mais um mandato de governador como Serra abriu? Nem pensar.

É Dilma já, meus caros. E ela ou Lula depois – salvo o imprevisível que, por sua própria natureza, serve para justificar o eventual desastre de qualquer análise.

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