Coluna Econômica
Como se analisa o governo Lula, por dentro? A visão abaixo é de Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula e encarregado de montar o programa da candidata Dilma Rousseff.
Garcia considera difícil a campanha da oposição atual, mais ainda do que a campanha de Lula em 1994, enfrentando Fernando Henrique Cardoso ancorado no Plano Real.
O plano Real representou uma mudança econômica, diz ele, percebida por jornalistas, economistas e intelectuais. Já as mudanças atuais são de ordem social, percebida, portanto, pela sociedade (na verdade, o fim da inflação em 1994 significou bem estar para toda a população).
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Garcia considera que a nova classe social, que nasceu nos últimos anos, será cada vez mais exigente. Hoje se contenta com Prouni ( o programa de bolsas em universidades privadas para estudantes carentes) ou adquirir a casa própria. No futuro, exigirá muito mais, uma abertura maior de horizontes.
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Esse movimento inaugurou um novo ciclo na sociedade brasileira, que não foi percebido pela oposição, diz ele. Passou os primeiros anos apostando no fracasso do governo. Quando se deram conta de que não estava funcionando, houve a aposta na crise política deflagrada pelo "mensalão".
Garcia compara com a crise de Vargas, em 1954. Entre o atentado da rua Toneleros, contra Carlos Lacerda, e o suicídio de Getúlio Vargas passaram apenas 19 dias. Foi um rastilho.
No caso do "mensalão", Lula reagiu em uma maratona que começou em Garanhuns e prosseguiu por todo o Brasil.
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Ai predominou ideia do sangramento, que começou a fazer água em fins de 2005. Em janeiro e fevereiro de 2006, pesquisas de opinião começaram a mostrar uma reversão do desgaste do governo Lula. Foi quando Serra desistiu de concorrrer à presidência e passou o cálice para Geraldo Alckmin.
Não se esperava uma inflexão no segundo governo Lula. O primeiro se caracterizou por uma ortodoxia pesada no Banco Central e por políticas sociais na outra ponta.
Com a crise do mensalão, percebeu-se a necessidade de um projeto nacional, explica Garcia.
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Além disso, se insistiu no discurso mais à esquerda que, segundo Garcia, teria sido responsável pelo episódio insólito de Alckmin receber, no segundo turno, uma votação 3 milhões de votos inferior à do primeiro turno.
Mas estavam lançadas aí as sementes de um programa de desenvolvimento, cujas expressões iniciais foram o PAC1 e o Minha Casa, Minha Vida, mantendo a política conservadora do Banco Central.
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Esse movimento, ainda segundo Garcia, teria desorientado a oposição, que passou a brandir um discurso bastante agressivo. Em 2009, Aécio Neves descobriu o tom correto, ao se apresentar como o pós-Lula. Só que, àquela altura, o PSDB estava profundamente identificado com o anti-lulismo dos períodos anteriores.
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Todo esse movimento se refletiu nas constantes mudanças da campanha de Serra. No início, apresentava-se como o candidato que iria unir ricos e pobres, esquerda e direita. À medida que Dilma subia, passou a espelhar uma direita centro-sul. Segundo Garcia, há uma direita composta de coronéis nordestinos. E outra, mais de centro-sul, com ingredientes fortes de preconceito.
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