Impressionante. Quanto mais a candidata à Presidência da República Dilma Rousseff cresce nas pesquisas, mais a campanha de oposição do candidato José Serra baixa o nível. Talvez o tucano ache que será com ataques e tentativas de plantar escândalos que conseguirá mudar os rumos da eleição. Há um grande engano nessa opção: a população quer ouvir dos candidatos o que pretendem fazer para que o Brasil siga no caminho iniciado no governo Lula.
Mas é preocupante que a campanha de Serra tenha partido para o vale-tudo eleitoral. O candidato tem levado ao seu programa eleitoral ataques desrespeitosos a Dilma, que não agregam nada em termos programáticos. Aliás, chegou a usar a imagem do presidente Lula em seu programa de TV, na tentativa de fingir que não fez oposição durante esses oito anos. Em entrevistas, tem feito ataques e dado declarações que, inclusive, não estão de acordo com sua história.
Serra chegou a prometer dobrar o Bolsa Família, mas não explicou o porquê de tantas críticas que fez ao programa no passado, nem porque, como governador de São Paulo, não deu prioridade a programas semelhantes. A população começou a desconfiar, ainda mais quando soube que Serra usa em seus programas de rádio e TV uma voz parecida com a de Elba Ramalho em uma música cantada por Elba Ramalho, mas que não é Elba Ramalho. No rádio, tem uma voz parecida com a do presidente Lula, mas todos sabem que Lula está com Dilma.
As atitudes de Serra vão transformando sua campanha no que sempre condenou em outras eleições: abandona o ar de bom moço, de progressista, agride e calunia, esperneia e ataca jornalistas, distorce fatos e dados. Em contraste, a campanha de Dilma vem mantendo o alto nível, discutindo ideias e propostas para fazer o Brasil seguir mudando. Afinal, há muito a ser feito ainda.
A opção pelos ataques não vai resolver o problema de desagregação que o tucano enfrenta. Nos Estados, as propagandas de outros tucanos e de aliados não citam Serra, porque temem uma contaminação. A debandada é geral: centenas de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais e até governadores mandam recado de apoio a Dilma. Tudo publicamente.
No fundo, o desgaste que hoje se vê na campanha de Serra é decorrência das opções que ele mesmo fez, como estimular uma oposição ferrenha a propostas que o governo Lula apresentou ao país. Durante a campanha, o tucano seguiu um caminho de isolamento, sem costurar apoios e alianças que pudessem dar sustentação sólida, uma mostra de que acha que o presidente governa sozinho sem equipe ou aliados políticos. Centralizador, Serra alimentou no início da campanha as deserções que colhe no atual momento eleitoral.
Em um contexto de desagregação e queda nas pesquisas, a campanha tucana passou a procurar culpados pelos erros que cometeu. Ao invés de corrigir os erros e apresentar seu programa de governo —até agora um mistério—, optou por uma linha de ataques, de desespero.
É lamentável que Serra siga esse caminho porque poderia de fato contribuir para um debate de alto nível. Ao desistir de uma campanha programática e escolher atacar Dilma a toda hora, Serra deixa uma pergunta no ar: seguirá baixando o nível até comprometer sua biografia?
José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil
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