Coluna de Paulo Moreira Leite
Levantamento da professora Maria Celina D’Araujo, professora da PUC do Rio de Janeiro, mostra uma situação curiosa no governo Lula.
Nada menos que 42,8% dos ocupantes de cargos de confiança na administração federal – aqueles onde a pessoa chega sem concurso público – são sindicalistas e ex-sindicalistas. Entre estes, 84% são filiados ao PT.
Divulgados ontem pela Folha, estes números tem uma utilidade indiscutível.
Ajudam a entender o funcionamento do governo Lula e do PT.
Mas eu me incomodo com quem aponta este levantamento como uma nova demonstração do “aparelhamento” do Estado pelo PT e pela CUT. A questão é outra.
Lembrando que cargos de confiança são cargos políticos, seria espantoso que, numa administração com o histórico do governo Lula, essas vagas fossem ocupadas por estudantes universitários, por executivos de banco, jornalistas, fazendeiros ou artistas plásticos.
Os sindicatos estão na origem do PT, forneceram boa parte dos quadros do
partido, formaram boa parte de suas lideranças.
Para usar uma categoria que já animou nossos intelectuais de esquerda — boa parte deles se encontra hoje no PSDB — os sindicalistas podem ser considerados os “intelectuais orgânicos” do governo Lula e, agora, do governo Dilma.
Eles expressam a visão de mundo do eleitorado, ajudam a manter o apoio ao governo e mobilizam os assalariado quando necessário. Estabelecem um contato direto entre o governo e uma parcela da sociedade. Outras lideranças do movimento popular cumprem esta função mas poucas tem a mesma importância.
A força dos sindicalistas foi demonstrada num episódio recente. Um dos motivos que levou o deputado Candido Vacarezza a perder a disputa para se tornar o nome do PT na disputa pela presidência da Câmara foi uma entrevista na qual defendia mudanças na legislação trabalhista que não agradam aos sindicalistas.
Os próprios dirigentes sindicais gostam de cultivar uma visão glorificada de sua atividade. Há exagero nessa visão. Na verdade, os sindicatos fazem parte da burocracia das sociedades de nosso tempo.
O sindicalismo não é um universo de anjos, mas de disputas e interesses. Mas em parte eles têm razão.
Com muita frequencia, é possível encontrar uma ligação entre as categorias que possuem um sindicalismo forte e o acesso a benefícios maiores.
Não custa lembrar que a vida social é um conflito permanente pela partilha de renda e de conforto — e nem o mais ingênuo dos advogados da economia de mercado consegue acreditar que a lei da oferta e da procura funciona de modo transparente e sem distorções para as pessoas. Sempre há uma margem de negociação.
No tempo em que pretendia disputar o movimento social com o PT, o PSDB tentou reforçar uma central alternativa à CUT, a partir da Força Sindical. Com a posse de Lula, a Força Sindical conservou sua parcela de dirigentes identificados com o PSDB mas uma maioria importante tornou-se lulista.
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