sexta-feira, 18 de junho de 2010

Para especialistas, ausência em debates não afeta Dilma, mas prejudica democracia

Diego Salmen
Do UOL Eleições
De São Paulo

A ausência da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, dos debates promovidos ao longo da campanha eleitoral não deve prejudicar sua imagem junto à maioria do eleitorado, avaliam especialistas ouvidos pelo UOL Eleições. "A Dilma tem grandes possibilidades de vitória, e tem que fazer uma campanha sem grandes riscos. Ela ser indicada pelo presidente Lula é um fator fortíssimo para a candidatura dela", diz Rubens Figueiredo, cientista político e diretor do Cepac (Centro de Pesquisas e Analises de Comunicação). "Do ponto de vista democrático, é péssimo ela não ir; agora, do ponto de vista da estratégia eleitoral, faz todo sentido", afirma.

A estratégia não é nova. Na campanha eleitoral de 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), à época líder nas pesquisas, não compareceu a nenhum debate ao longo de sua campanha à reeleição; o mesmo ocorreu em 2006 com o também candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, no entanto, compareceu a debates no segundo turno do pleito contra seu adversário Geraldo Alckmin (PSDB). "É muito comum o candidato que está na frente das pesquisas ser criticado por todos os demais candidatos nos debates", diz Figueiredo.

Em nota de esclarecimento enviada ao UOL Eleições nesta sexta-feira (18), a assessoria de Dilma negou que a candidata deixará de participar dos debates já agendados. "Isso não é verdade. Dilma já afirmou que irá aos debates já marcados nas emissoras de TV aberta", diz o documento.

Após ter confirmado presença em uma sabatina promovida pelo portal UOL e pela Folha de S. Paulo, a presidenciável petista cancelou sua participação para realizar uma viagem a Europa, onde se encontrou com Nicolas Sarkozy, presidente da França, e José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia; Dilma ainda terá encontros com José Luiz Rodriguez Zapatero, presidente da Espanha, e José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal. O cancelamento motivou uma série de críticas e abriu espaço para especulações sobre a ausência de Dilma em eventos semelhantes ao longo da campanha.

Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ, a ausência de Dilma "pode trazer prejuízo a ela nos setores médio e de formadores de opinião, que gostam desse tipo de debate". No entanto, avalia o especialista, "a maior parte do eleitorado, feliz ou infelizmente, não vai se definir dessa maneira".

A opinião é compartilhada por Figueiredo. "Isso [a ausência em debates] atinge uma parcela muito pequena do eleitorado; do ponto de vista eleitoral, não chega a fazer diferença", diz. "Incomoda quem não vai votar na Dilma e quem tem uma carga de informações muito volumosa sobre política. São poucos os eleitores com esse perfil", afirma.

Segunda o último levantamento do Datafolha, divulgado em maio, a ex-ministra da Casa Civil está empatada com o tucano José Serra na disputa pelo Palácio do Planalto - ambos registram 37% das intenções de voto cada. Atrás deles vem a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (PV), com 12% da preferência do eleitorado. A ascensão nas pesquisas pode explicar uma mudança na campanha de Dilma. “Pode ser uma retirada estratégica, para evitar a exposição, já que ela é fraca no manejo público. Pode ser medo de soltar uma declaração infeliz e ver isso repercutir. Mas com isso ela ganha a imagem de candidata que foge do debate”, analisa o cientista político Cláudio Couto, da FGV-SP.

Couto diverge dos colegas quanto ao impacto eleitoral causado pela ausência em debates. “No Brasil, apesar de FHC e Lula já terem faltado a debates, no caso de Dilma, ela é uma figura que está em fase de construção de imagem, sem a popularidade do presidente Lula, por exemplo", diz. “No México, tivemos o exemplo do candidato Lopez Obrador, líder, que fugiu do debate e caiu nas pesquisas”, afirma.

"Frase mal encaixada"

Os presidenciáveis têm seu primeiro debate agendado para 5 de agosto, na Band. No mês seguinte, a RedeTV! recebe os candidatos à Presidência no dia 12; a Record, por sua vez, promove o encontro no dia 26 do mesmo mês. A Globo realiza o último embate, marcado para o dia 30 de setembro. No dia 3 de outubro, um domingo, acontece o primeiro turno das eleições.

"Gente, não tem o menor sentido dizer que estou evitando debates e entrevistas. Basta olhar a imprensa", escreveu a ex-ministra da Casa Civil em seu twitter para justificar o cancelamento. "Só não irei à sabatina da Folha na data marcada porque embarco daqui a pouco para uma série de encontros com chefes de estado e governo europeu", disse. "Domingo, volto para retomar a agenda ,que, obviamente, inclui entrevistas e debates. Debates já marcados na TV aberta: Band, Record, Rede TV!, Globo...", afirmou a petista no microblog.

Na avaliação de Ismael, a assessoria de Dilma "tem medo de duas coisas: de alguma resposta que possa não ser boa, e da questão da forma, que é mais grave que o conteúdo". Para o especialista, a imagem da ex-ministra da Casa Civil é construída "para que não seja vista como autoritária, mandona, que não tenha esse perfil; dentro de um debate desses, em que a pessoa fica sem poder disfarçar o que está pensando e sentindo, pode surgir alguma imagem ruim, um descontrole. A preocupação maior não é o conteudo, porque isso ela vai treinando, o problema é a forma", afirma.

"O debate é a única situação da campanha em que o candidato tem a oportunidade de falar por algum tempo, mas também é interpelado e aí corre o risco maior", diz Figueiredo. "Ele não está protegido pelo marketing nem pela assessoria de comunicação. Sempre há a possibilidade de os candidatos se desentenderem, uma frase mal encaixada, um olhar raivoso que o eleitor pode perceber", finaliza.

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