Fonte: Blog do Noblat
Johannesburgo – O que há em comum entre a seleção de Dunga e a oposição ao governo Lula reunida em torno da candidatura a presidente de José Serra?
Respondeu que ambas estão destinadas à derrota? Errou.
Um dos encantos do futebol é que nem sempre vence o melhor time. Por mais que jogue bem, pode perder. Na política, vence quem joga melhor.
Vamos aos pontos em comum. Dunga não faz a menor questão de parecer simpático. Serra faz – embora nem sempre consiga. A antipatia de Serra poderá lhe roubar votos. A de Dunga estressa o time.
Foi assim no jogo Brasil x Portugal. A certa altura, Dunga disparou grosserias contra o zagueiro Lúcio, o melhor jogador brasileiro em campo. Lúcio reagiu irritado. Mais tarde, em entrevista coletiva, Dunga elogiou Lúcio.
Serra e Dunga cultivam a paranóia de que a mídia os persegue. Se não persegue pelo menos não os trata com a devida consideração.
Da mídia, os que precisam dela cobram adesão incondicional. Adesão disfarçada não os satisfaz. E reclamam quando não têm.
Dunga e Serra reclamam de barriga cheia – mais Serra do que Dunga. Se o hexa for adiado, aí, sim, Dunga terá motivos de sobra para reclamar – com ou sem razão.
Os dois armaram seus times para jogar da defensiva.
Em 1994, com Dunga como capitão, o Brasil foi tetra na Copa disputada nos Estados Unidos. Derrotou a Itália nos pênaltis. Exibiu um futebol medíocre – de resto muito semelhante ao que tem mostrado nesta Copa.
Por que o futebol é o mais amado dos esportes? Entre outros motivos por sua beleza. A troca da beleza por resultados conspira contra o amor pelo futebol.
Como Serra imagina derrotar Lula? Dizendo que continuará o que ele fez e prometendo fazer muito mais? Poupando o governo de críticas como se ele fosse a oitava maravilha do universo?
O que Serra tem a propor para os mais de 30 milhões de brasileiros que saíram da miséria nos últimos oito anos? E para aqueles que ainda chafurdam nela?
Na retranca não irá a lugar algum. Ou melhor: verá Dilma indo para o lugar de Lula.
Falta um cérebro na oposição, que ameaça se desagregar em torno de Serra antes mesmo do início oficial da campanha marcado para o próximo dia cinco. Assim como falta um cérebro na equipe montada por Dunga.
Rivaldo foi o cérebro da equipe que em 2002 ganhou o penta na Alemanha. Ainda em fase de recuperação, Kaká é apenas um aspirante à condição de cérebro. Júlio Baptista? Brincadeira!
A oposição entrou em campo apostando no talento de uma geração envelhecida de políticos da qual o próprio Serra faz parte.
Que apelo representam nomes como os de Jorge Bornhausen, Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel, Orestes Quércia, Tasso Jereissati e Jarbas Vasconcelos, por exemplo – esse último obrigado a concorrer ao governo de Pernambuco só para que Serra pudesse ter um palanque por lá?
Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, soaria como algo novo caso tivesse sido escolhido para candidato a presidente. Venceria a eleição? Dificilmente. Mas fortaleceria seu nome para a seguinte.
Lula também não venceu as três primeiras eleições presidenciais que disputou.
Esta deverá ser a última da vida de Serra. E até aqui ele tem tudo para perdê-la. Arrisca-se a ir para o vestiário ao fim do primeiro turno.
Em parte, Dunga foi mais sábio do que a oposição. Descartou uma geração envelhecida de craques – Ronaldo, O Gordo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Adriano e Rogério Ceni.
Em compensação, resistiu em aproveitar o que havia de mais novo e promissor – Hernandes, do São Paulo, Ganso e Neymar do Santos.
Não me venham lembrar que Ganso foi operado outro dia. Quem poderia ter previsto?
No futebol, um título pode ser ganho em cima de um erro idiota do adversário. Na política, só o grande erro derrota quem pinta como vencedor.
Em quem aposto minhas fichas – Dunga ou Serra?
Por um sou obrigado a torcer. Pelo outro só me cabe observar.
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