quinta-feira, 24 de junho de 2010

O controle da agenda eleitoral

Artigo de Murillo de Aragão

Uma das variáveis importantes para a definição da disputa entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) será o controle da agenda da eleição. Candidata de um governo muito bem avaliado, Dilma apostará na comparação de resultado das gestões de Lula com Fernando Henrique.

A peça chave da estratégia é o presidente Lula, que, com sua elevada popularidade, será o principal cabo eleitoral de sua candidata. De acordo com última pesquisa Datafolha (junho), Dilma tem potencial para chegar a 66% dos votos: 44% afirmaram que certamente votariam em um candidato apoiado por Lula e 22% disseram que podem votar. O objetivo, portanto, é colar a imagem de Lula em Dilma e vender para os eleitores a idéia de que ela representa a continuidade das conquistas da atual administração.

Como há espaço reduzido para um discurso oposicionista, a estratégia de Serra será tentar “tirar” o governo Lula do debate. O objetivo do PSDB é fazer com que se discuta quem é o mais experiente para governar o Brasil. Na avaliação dos tucanos, Serra se beneficiaria por já ter sido deputado federal, senador, prefeito e governador, enquanto Dilma disputa sua primeira eleição.

Segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, uma questão muito importante nesta eleição presidencial é: qual dos candidatos (Serra ou Dilma) conseguirá convencer os eleitores de que os avanços obtidos nos últimos anos vão continuar?

Numa disputa eleitoral, o candidato que controla a agenda é aquele que consegue estabelecer um discurso de campanha que se conecte com as principais demandas do mercado eleitoral. Observando o cenário, parece claro que a agenda das eleições é uma agenda de continuísmo. Quem controlar melhor essa agenda, vencerá a disputa.

Por conta do cenário econômico favorável, com geração de empregos, elevado poder de consumo e satisfação com os programas sociais, e da associação com o presidente Lula, é mais fácil Dilma Rousseff controlar a agenda. Daí muitos acreditarem que ela tem tudo para ganhar a disputa, desde que não cometer muitos erros.

Seu adversário, José Serra, poderá conseguir o objetivo de se apropriar da agenda. Porém, sua tarefa é bem mais complicada. O candidato do PSDB tem pouca munição. Ao longo dos últimos sete anos, seu partido não conseguiu construir uma agenda clara com a qual pudesse se apropriar dos acertos do governo Lula e apontar, com precisão, seus erros e equívocos. Para tentar contornar esse problema, Serra tem dedicados suas críticas para saúde, segurança pública e impostos. Segundo última pesquisa Ibope (junho), são as áreas onde o governo apresenta as piores avaliações. Para os entrevistados do instituto, nesses quesitos a vida das pessoas piorou muito ou piorou um pouco para 34%, 38% e 33%, respectivamente.

A questão da agenda também deve preocupar muito à candidatura de Marina Silva. Sem ter grandes apelos no campo da gestão e da economia, Marina vai tentar mostrar um jeito diferente de fazer o mesmo e, ainda, inserir a agenda ambiental no debate. Talvez seja muito para tão pouco tempo de campanha.

Murillo de Aragão é cientista político

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