domingo, 13 de junho de 2010

Começou a Copa

Deu no Correio Braziliense

De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi:

De agora ao dia 11 de julho, o Brasil estará atento ao que acontece na África do Sul. Tanto mais quanto melhor for o desempenho da seleção e por um tempo tanto maior quanto mais longe ela for. Se estiver em campo no dia do enceramento, nem se fala. O país vai parar.

As especulações sobre o impacto da Copa do Mundo nas eleições, especialmente presidenciais, têm sido uma constante desde 1994, quando, pela primeira na era moderna, aconteceu de coincidirem (antes, só em 1950). Muita gente que entende de futebol e de eleições sustenta que o efeito de uma sobre a outra existe e é grande. Quase sempre, a tese é de que os candidatos que representam o governo se beneficiam da vitória, por mecanismos que não se sabe quais são, mas que funcionam.

As evidências em favor do argumento não são sólidas, no entanto. Basta recapitular o que ocorreu de lá para cá. É verdade que a série é inaugurada por um caso que o confirma: Fernando Henrique, candidato da continuidade, venceu no ano em que o Brasil chegou ao tetra. Mas ele voltou a ser bem sucedido na eleição seguinte, apesar da decepção brasileira na França meses antes.

Com Lula, o padrão se repetiu, só que ao contrário. A conquista do penta na Copa realizada na Coréia do Sul e no Japão em junho de 2002 não trouxe qualquer benefício a Serra, o candidato do governo. Quem venceu foi Lula, que voltaria a ganhar em 2006. Não custa lembrar (mesmo que não seja uma memória agradável), que a seleção brasileira havia apresentado, na Copa da Alemanha, seu pior desempenho nos últimos anos.

Não há dúvida que o eleitor brasileiro, na sua maioria, muda de astral no período em que se realiza a Copa do Mundo. Pode haver muita gente que se aproveita do interesse que as pessoas costumam ter pelo futebol, buscando promover seus produtos e suas marcas enquanto ela acontece. Pode ser que a mídia incentive certos exageros dos torcedores, apenas para faturar em cima de suas emoções.

Isso não muda, porém, o fato de que o interesse das pessoas passa a se dirigir ao futebol durante esses 30 dias. A pergunta é quanto dele se concentra na Copa, se elas lhe dedicam tanto que não há lugar para mais nada em suas preocupações.

Se olharmos para o que aconteceu com as pesquisas de intenção de voto no período de realização na Copa de 2002, podemos ter uma ideia de como os dois eventos interagem. Ela não é, nesse aspecto, diferente das eleições anteriores ou da seguinte, e é mais interessante para nós este ano, por não ter transcorrido em meio a um processo de reeleição.

Quando faltavam 15 dias para o início daquela Copa, a Vox Populi divulgou pesquisa em que Lula tinha 40%, Serra 20%, Garotinho 13% e Ciro Gomes 9%. Os indecisos eram 9%. Uma semana depois de ela começar, o Datafolha publicou outra, com Lula com 40%, Serra 21%, Garotinho 16%, Ciro 11% e 5% de indecisos. Tudo igual. Mais 15 dias e a Sensus divulgou a sua: Lula 39%, Serra 21%, Garotinho 13%, Ciro 14% e indecisos 14%. Tudo igual de novo, com uma pequena piora de Garotinho e uma discreta melhora de Ciro.

Na semana em que o Brasil comemorava a vitória, a Vox publicou: Lula 39%, Serra 17%, Garotinho 12% e Ciro 18%, com 5% de indecisos. Em meados de julho, o Ibope também mostrou a subida de Ciro, detectada no meio da Copa: Lula 33%, Serra 15%, Garotinho 10% e Ciro, em segundo lugar, com 22%. Os indecisos eram 14%.

O que esses números sugerem? Que os eleitores estavam com um olho na eleição e outro na Copa. Ela não alterou a evolução das intenções de voto, fazendo com que Serra subisse. Também não teve o efeito inverso, carreando intenções para Lula. A indecisão não aumentou, em função de um hipotético desvio da atenção para os gramados da Ásia.

Mas o mais relevante foi o que se passou com Ciro. Antes do Mundial, estava com 9%, depois, com 22%%. Por quê? Teria ele alguma relação especial com o futebol? As pessoas pensaram nele por ter o Brasil vencido?

Aconteceu que o PPS e os partidos que o apoiavam, PDT e PTB, destinaram a ele seus tempos de propaganda “partidária” na televisão, todos em junho. Ciro subiu, como seus adversários haviam subido em momentos semelhantes ao longo do primeiro semestre de 2002. Não foi por estarem as pessoas assistindo aos jogos da Copa e com a cabeça em Filipão e seus pupilos que elas deixaram de acompanhar a eleição e de reagir à comunicação política.

Enfim, vamos ver se a história se repete ou se teremos novidades este ano. O que só saberemos daqui a um mês. Por enquanto, vamos torcer.

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