quinta-feira, 17 de junho de 2010

A sabatina de Marina Silva

Da Folha

SABATINA FOLHA
MARINA SILVA
Brasil não precisa de um "continuador", diz Marina


Marina Silva, candidata do PV, durante sabatina

SENADORA ELOGIA PRESIDENTE E DIZ QUE AINDA CONSEGUE "SENTIR" SEU CORAÇÃO

Nem opositor nem continuador. Em sabatina promovida pela Folha e pelo UOL, a candidata do PV ao Planalto, Marina Silva, disse ontem que o país precisa de um sucessor do presidente Lula, que saiba reconhecer defeitos e qualidades de seu governo.
Ela tentou se diferenciar de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), que estariam comprometidos com o ataque e a defesa incondicional da gestão petista.
Em terceiro lugar na corrida presidencial, com 12% pelo Datafolha, a senadora negou ser mais condescendente com o tucano. E afagou o eleitorado lulista, dizendo ser capaz de sentir "a alma e o coração" do presidente. "As pessoas vão continuar votando num Silva, só que na Marina Silva", brincou.

DE SÃO PAULO

Participaram da sabatina Vera Magalhães, editora do caderno Poder; Renata Lo Prete, editora do Painel; Fernando Rodrigues, colunista da Folha e do UOL; e Rodrigo Flores, gerente-geral de notícias do UOL.
Marina também respondeu perguntas enviadas por internautas e eleitores que assistiram à entrevista no Teatro Folha, em São Paulo.

presidencial
Como diz a música do Caetano Veloso, o presidente Lula aprendeu a dor e a delícia de ser o que é. Por não ter sido capaz de enfrentar todas as dificuldades, ele precisa de um sucessor, não de um continuador. O Brasil precisa de um sucessor, e não de um continuador ou um opositor. O opositor tende a jogar tudo na lata do lixo, e o continuador acha que já está tudo pronto e basta seguir acelerando até o nirvana político

Papel na disputa
A gente ia fazer um plebiscito para discutir quem é mais desenvolvimentista, quem é mais gerente, quem tem mais currículo e quem tem melhor passado. Será que essa é a discussão que interessa? É por isso que estou aqui: para quebrar o plebiscito.

Dilma e Serra
Não estou sendo generosa nem condescendente com nenhum dos dois. Estou me esforçando muito para ser justa, e isso não é fácil. A Dilma e o Serra são muito parecidos, totalmente parecidos. Os dois têm uma visão desenvolvimentista, crescimentista. Não vejo diferença.

Lula e FH

O presidente Lula conseguiu quebrar o velho paradigma de crescer para depois distribuir, e o presidente Fernando Henrique conseguiu estabilizar nossa economia. Olho para os dois e vejo duas claridades. Mas os dois ainda não foram capazes de integrar critérios de sustentabilidade em suas visões políticas.
Relação com o presidente
Eu senti o coração do presidente Lula durante 30 anos. Hoje, mesmo afastada, continuo sentindo. Enganam-se aqueles que acham que eu não contribuo com ele. A gente contribui também quando critica e quando se afasta. Às vezes, se afastar dói mais do que ficar junto.

Saída do PT
Saí pelas mesmas razões que fiquei durante 30 anos. Bastaria [para não sair] o PT estar comprometido com a agenda da sustentabilidade e ter um candidato com o compromisso de fazer a transição para uma economia de baixo carbono. Eu seria cabo eleitoral, como sempre fui, do presidente Lula. Não precisaria ser candidata. [O partido] perdeu a atualidade, a capacidade de ter visão antecipatória das coisas.

Embates com Dilma
Minha saída [do governo] foi a maior explicitação das divergências. Se fosse ficar contando bastidores de reuniões, eu resvalaria para a falta de ética. Mas não quero me fazer de vítima. Não era. Nós discutíamos de igual para igual. Existiam coisas em que divergíamos, e quem decidia era o presidente Lula.

Partido Verde
O PV não é um partido perfeito, tem as dificuldades e os problemas dos outros partidos. Quando estava no PT, descobri que ele não era o partido perfeito que nós, idealisticamente, achávamos que fosse. O PV se dispôs a atualizar seu programa e colocar questão da sustentabilidade ambiental como eixo estratégico da atuação.

Perfil do eleitorado
Meus eleitores não estão associados às máquinas partidárias e aos velhos caciques, que se sentem donos de tudo e ainda do resto. A gente olha para os palanques e dá 500 anos de política velha no Brasil. Difícil é você ter a quantidade que eu tenho de pessoas que, espontaneamente, num movimento suprapartidário, estão mostrando que votaram no Lula e agora vão continuar votando num Silva: na Marina Silva.

Apoio de Sarney Filho
Não dá para a gente simplesmente pegar a trajetória do presidente Sarney e colocá-la, com todo seu peso, nas costas do Sarney Filho, ainda que eu reconheça que ele vem da política tradicional.

Custo da campanha
Sabemos que é muito difícil essa arrecadação [de R$ 90 milhões, teto estabelecido pelo PV]. Fizemos o que achamos razoável para uma disputa como essa, sem demagogia. Não chega nem perto dos outros candidatos, mas é razoável.

Escolha do vice
O Guilherme [Leal] está nesse projeto pelo que ele representa. Não é por ser um homem rico. É porque ele é um empresário que, fazendo a coisa certa dos pontos de vista social e ambiental, conseguiu os resultados certos do pontos de vista econômico. Obviamente, ele agrega mobilizando aqueles que têm uma visão de vanguarda para investir nesse projeto.

Política externa
O Brasil acertou quando se voltou para outras regiões do mundo, como a África. Em relação ao Irã, vejo com preocupação [a aproximação], porque cria uma audiência para um país que desrespeita os direitos humanos e tem presos políticos. Acho temerário, porque temos uma cultura de paz.

Apologia do pré-sal
O petróleo é um mal necessário. Temos que utilizar essa fonte de energia e fazer com que sua riqueza produza, até meados do século, a tecnologia que vai substituí-la. Agora, as pessoas estão fazendo a apologia, pura e simplesmente, do pré-sal.

Divisão dos royalties
O problema é que a questão dos royalties foi contaminada pelo processo político. Quem puder vai dar o maior lance para ganhar voto. Não se pode resolver assim. Eu defendi que fosse adiada [para depois da eleição].

Transgênicos
Nós deveríamos ter um modelo de coexistência, uma legislação que permitisse áreas com transgênico e áreas sem transgênico. Para isso, precisaríamos ter um regramento que protegesse os plantadores de ter suas plantações contaminadas. Hoje eu te digo: a legislação é tão permissiva, que eu acho que não tem mais como voltar atrás.

Cotas raciais
Às vezes, o debate resvala para uma espécie de guerra entre negros, brancos e amarelos. Não precisamos disso.
Nós precisamos nos constituir como um povo diversificado, mas é necessário que tenhamos políticas de cotas para suprir a mazela histórica em relação aos índios e aos negros. Quando a sociedade tiver um acúmulo de oportunidades para todos, não fará mais sentido termos cotas.

Igualdade de oportunidades
Nossos filhos e os filhos dos ricos têm muitas oportunidades. Os filhos dos pobres às vezes não têm nenhuma, e ainda são chamados de preguiçosos, vagabundos e incompetentes. Como alguém pode ser trabalhador se não tem uma profissão para trabalhar? A única chance que eu tive foi o Mobral. E se eu não tivesse me alfabetizado em 15 dias?

Reeleição
Sou favorável à ampliação dos mandatos para cinco anos e ao fim da reeleição. Hoje se faz o que é necessário para se reeleger, e não o que é necessário para o país.

União de gays
Não sou favorável ao casamento, mas defendo os direitos civis: que eles possam ter união de bens, plano de saúde conjunto e direitos assegurados aos outros. Não é justo que quem construiu o patrimônio junto não possa usufruir dele. Não concordo com o casamento porque entendo que é um sacramento. Tenho sido criticada por alguns segmentos, mas outros entendem a minha posição.

Aborto
Como tenho posição em defesa da vida, sou contrária ao aborto, mas defendo que se faça um plebiscito para que a sociedade brasileira decida.

Adoção por homossexuais
Não tenho ainda opinião formada. Vou ficar sempre a favor da criança. Seja casal homossexual ou hétero, [a adoção] sempre vai passar por uma avaliação técnica. Não tenho competência para fazer essa avaliação.

Liberação das drogas
Não sou favorável, mas também defendo um plebiscito. Não vou pelo discurso raso de dizer que as pessoas que defendem a liberalização das drogas são pervertidas ou destruidoras da sociedade, mas às vezes me tratam como se eu fosse fundamentalista.

Mulher na Presidência
São mais inclusivas, têm mais capacidade de negociação, tendem muito mais ao consenso do que à disputa.

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