sexta-feira, 4 de junho de 2010

Como vencer na derrota

Como se sabe, as únicas verdades que se pode afirmar previamente sobre as disputas são a de que elas produzem vencedores e vencidos e a de que é mais fácil vencer do que perder, o que torna necessário que se tenha um código de conduta na disputa para que a derrota, se vier, seja digna e, por que não?, “vitoriosa”.

Olhando-se para os resultados de eleições recentes (nesta década), contudo, encontram-se derrotas feias para os dois principais grupos políticos que disputam o poder no país, na centro-direita (PSDB e DEM) e na centro-esquerda (PT).

Foi horrível a derrota de Serra em 2000. A tentativa dele de imputar a uma possível vitória de Lula a volta da inflação e o estabelecimento de um caos econômico generalizado, o que foi feito através do discurso do medo, discurso que ficou simbolizado por Regina Duarte, tornou sua derrota humilhante e faz dele, até hoje, alguém que mentiu, pois nada do que previu para o governo do adversário se concretizou.

Foi horrível a derrota de Marta Suplicy em 2008. A tentativa dela (a responsável pela própria campanha eleitoral) de estimular preconceito homofóbico contra Gilberto Kassab contrariou toda a história de vida da ex-prefeita e lhe gerou uma rejeição em São Paulo ainda maior do que aquela que ela tinha quando começou a campanha para tentar voltar a governar a maior cidade do país.

Tanto Serra quanto Marta saíram das campanhas eleitorais de 2002 e de 2008, respectivamente, menores do que entraram. Marta ainda pagará por muito tempo o preço de ter apelado para “atalhos” em 2008 para tentar derrotar o adversário; Serra está pagando até hoje por ter caluniado Lula em 2002, como tenho certeza que ficará demonstrado ao fim da campanha eleitoral deste ano.

Mas na campanha eleitoral de 2010 ainda há tempo para que todos, vencedores e derrotados, saiam dela maiores do que entraram. Sobretudo no que diz respeito à campanha presidencial. Nesta, inclusive a mídia pode sair menor ou maior do que entrou.

Comecemos pelo fim, pela mídia. Se ela continuar tomando partido de Serra, avalizando todas as queixas dele contra os adversários, como se viu agora no caso do dossiê que o PSDB acusou Dilma de ter feito contra seu candidato a presidente, estará se atrelando ao resultado da eleição, como aconteceu em 2002 e, sobretudo, em 2006.

O fracasso da artilharia midiática contra Lula e Dilma mostra que a sociedade não acredita mais na imprensa quando esta tenta apontar culpados e inocentes, competentes e incompetentes para gerir a coisa pública. E esse processo vem se acentuando justamente porque, quanto mais a imprensa fracassa, mais insiste na mesma estratégia de tentar alterar a decisão soberana do eleitorado por meio de teatro, de construções de escândalos e de acusações contra os políticos dos quais não gosta.

Declarações de Serra acusando a Bolívia sem provas, a Dilma sem provas, vão fazer com que saia ainda menor do que entrou na eleição presidencial de 2010. Vai ficando carimbado como alguém volátil, imprevisível, irresponsável, disposto a tratar qualquer crítica como um ato de guerra contra si. Enfim, tudo que o país não quer mais.

A dificuldade de entenderem que a única forma de Serra vencer esta eleição não será falando mal de sua adversária, mas sobre por que o eleitorado deve lhe dar uma oportunidade de tentar fazer melhor do que ela, parece patológica.

Seria bonito ver o adversário de Dilma se comportar como um estadista, expor seus planos para fazer mais pelo Brasil ostentando no olhar um brilho de confiança neles; seria maravilhoso ver a imprensa cobrar discussões sérias dos candidatos em ver de ficar dando asas a picuinhas e ainda tentando prejudicar um dos lados.

Infelizmente, a escolha não é minha, é deles – da mídia e de Serra. Acredito, para meu desgosto, que preferirão o tudo ou nada, como sempre. Eu, porém, jamais entraria em uma competição disposto a fazer qualquer coisa para vencer. Na hora da derrota, ela é muito mais amarga quando se foi um adversário desleal.

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