terça-feira, 1 de junho de 2010

Incógnita eleitoral

Coluna do Valdo Cruz - Folha

Dilma subiu nas últimas pesquisas, empatou com José Serra, mas ainda segue em desvantagem em relação ao tucano entre os empresários. Qual seria a explicação? Em conversa com três empresários, dois paulistas e um mineiro, ouvi o seguinte argumento, idêntico praticamente até nas palavras: "Dilma ainda é uma incógnita, mesmo sendo a candidata do presidente Lula. Já Serra, para o bem ou para o mal, sabemos como agirá. É mais previsível e mais amigável à indústria".

Segundo esses empresários, todos da indústria, Dilma não gera, até o momento, confiança plena sobre como agirá em torno de temas polêmicos, defendidos pelo PT e por sindicalistas. Exemplo: redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. No caso de Lula, a turma da indústria perdeu o medo do presidente, porque ele mostrou, durante seu mandato, estar acima do PT. Em outras palavras, o PT depende de Lula. Mas Dilma, presidente, pode depender e muito do PT.

Quanto a José Serra, todos o conhecem muito bem, principalmente porque o grosso do empresariado da indústria está em São Paulo. Quem não está, tem em São Paulo relações importantes. E Serra, desde sempre, defendeu as reivindicações do setor. Mesmo quando esteve no governo FHC, quando criticava as políticas cambial e monetária de então.

Ainda sobre dúvidas em relação à candidata petista, empresários ouvidos pela reportagem avaliam ter certo receio sobre como ela agirá diante do apetite por cargos do PMDB. Um PMDB que deve entrar no governo Dilma com mais força política do que no governo Lula. Um partido que entra como apoiador de primeira hora, pedindo regalias por tal disposição e empenho. Já Serra, na visão desses empresários, não seria refém dos peemedebistas.

No comando da campanha de Dilma, a avaliação difere um pouco. Essa desconfiança estaria mais no empresariado paulista e em alguns grupos pesos-pesados da economia. Em outros segmentos, contudo, a visão sobre a petista seria diferente. Principalmente entre aqueles que trabalharam diretamente com Dilma quando ela ocupava a Casa Civil, discutindo programas governamentais. Tais como Minha Casa, Minha Vida ou obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Esse tipo de desconfiança já era, contudo, previsível pelo presidente Lula. Não por outro motivo ele convenceu Dilma a ter no seu comando de campanha o ex-ministro Antonio Palocci Filho. Na visão de Lula, Palocci tem, como missão na campanha e num futuro governo, a função de tranquilizar o empresariado e servir como ponte em temas polêmicos.

Dito tudo isso, empresário é, antes de mais nada, pragmático. Se Dilma mantiver sua curva ascendente nas pesquisas, com certeza o empresariado vai se aproximar cada vez mais da candidata petista. É sempre assim em toda eleição. Basta dar uma olhada nas doações de campanha. Determinados empresários, os maiores, principalmente, costumam iniciar a campanha dividindo igualmente as doações. Depois, quando um candidato se mostra favorito e praticamente vencedor, os recursos são basicamente direcionados para ele. O outro passa a enfrentar uma seca financeira danada. Não será diferente agora.

Juros

Por falar em eleição e economia, na próxima semana tem nova reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. A política monetária andou dividindo os dois principais candidatos. Enquanto Serra aproveitou para intensificar suas críticas à equipe do presidente do BC, Henrique Meirelles, Dilma defendeu seu ex-colega de governo e nome cotado para integrar uma futura equipe ministerial da petista.

Como o BC vai seguir subindo os juros na semana que vem, o tucano vai aproveitar para aumentar sua artilharia contra o governo. Seguindo sua nova estratégia, de bater mais na administração Lula, depois de perceber que seu estilo paz e amor já não estava rendendo tantos votos assim. Dilma, do seu lado, vai torcer para que o Banco Central pelo menos reduza a dose _na última reunião, o Copom subiu os juros em 0,75 ponto percentual, colocando a taxa de juros em 9,5%. No mercado, tem gente que aposta na repetição da dose. Quem sabe, porém, com a economia dando sinais de desaceleração, o Copom possa amenizar a nova alta. A conferir.

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