domingo, 19 de setembro de 2010

Folha, Se Manca 2...

Por Heleno Luís
Sou leitor há nem sei quanto tempo. Desde muleque, guri mesmo, sei lá, dez, doze anos. Tenho 36 anos, de família iletrada e humilde. Migrantes pernambucanos. No início nem entendia muito os textos dos editoriais. Para um garoto, complexo linguajar! Mas os lia, valentemente. Devorava o jornal do início ao fim. Até os anúncios necrológicos.

Inúmeras vezes deixei de tomar um lanche para comprar o jornal. Nunca fui assinante, comprar em banca era parte da minha militância e orgulho de assíduo leitor, além de um hábito, vício danado, impossível de conter. De quando em vez, me bandeava para o Estadão, coisa que não durava dois ou três dias, pois era um diário chatão, cheio das frescuras, de difícil decifração e pior, não tinha as crônicas do Cony.

Tornou-se um ritual na idade adulta. Depois do café da padaria (Dona Deôla da Cerro Corá, e agora uma fuleirinha sujinha aqui na Santa Cecília), uma passada na banca para pegar a Folha, e sôfrego, correr para o salão (sou cabeleireiro) destrinchar o jornal.

Hoje já não tenho mais estômago. Como o Lula, tenho azia.

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