Por Heleno Luís
Sou leitor há nem sei quanto tempo. Desde muleque, guri mesmo, sei lá, dez, doze anos. Tenho 36 anos, de família iletrada e humilde. Migrantes pernambucanos. No início nem entendia muito os textos dos editoriais. Para um garoto, complexo linguajar! Mas os lia, valentemente. Devorava o jornal do início ao fim. Até os anúncios necrológicos.
Inúmeras vezes deixei de tomar um lanche para comprar o jornal. Nunca fui assinante, comprar em banca era parte da minha militância e orgulho de assíduo leitor, além de um hábito, vício danado, impossível de conter. De quando em vez, me bandeava para o Estadão, coisa que não durava dois ou três dias, pois era um diário chatão, cheio das frescuras, de difícil decifração e pior, não tinha as crônicas do Cony.
Tornou-se um ritual na idade adulta. Depois do café da padaria (Dona Deôla da Cerro Corá, e agora uma fuleirinha sujinha aqui na Santa Cecília), uma passada na banca para pegar a Folha, e sôfrego, correr para o salão (sou cabeleireiro) destrinchar o jornal.
Hoje já não tenho mais estômago. Como o Lula, tenho azia.
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