sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Razões

artigo
por Merval Pereira

Está acontecendo um fenômeno interessante em relação à última pesquisa do Datafolha, que registrou uma redução da diferença entre a candidata que lidera, Dilma Rousseff, e seus oponentes, notadamente o tucano José Serra e a verde Marina. Nenhum deles liga essa queda diretamente ao escândalo envolvendo a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, por motivos distintos.

A campanha de Dilma, como é natural, minimiza os novos dados, ressaltando que eles estão dentro da margem de erro. É verdade, embora nesses casos uma soma de pequenas subidas e descidas acabe levando o resultado para além da margem de erro.

É o caso atual, em que Dilma caiu dois pontos, Serra subiu um e Marina Silva, a maior beneficiária das mudanças, subiu dois, e a diferença entre quem lidera e os demais caiu para 7 pontos percentuais.

Na verdade, essa diferença é de cerca de 4 pontos, pois o que sair de Dilma vai ou para Serra ou para Marina.

Já a campanha de José Serra também minimiza a influência dos escândalos na mudança de resultado. O marqueteiro Luiz Gonzalez, cada vez mais certo de sua estratégia, diz que a evolução lenta da candidatura Serra deve-se à formação da imagem através da acumulação de informações sobre o candidato.

Na teoria de Gonzalez, nem mesmo o escândalo dos "aloprados" de 2006 teve a ver com o crescimento da candidatura de Geraldo Alckmin nos últimos dias, chegando a surpreendentes 42% de votos no primeiro turno.

Tanto seria verdade que a campanha para o governo paulista não teria sido afetada pelo escândalo local, com o agravante que o alvo principal do dossiê era mesmo Serra, e o coordenador da campanha de Mercadante estava envolvido na operação.

Os filmetes mais agressivos que estão aparecendo na internet foram vetados por Gonzalez para o programa de propaganda eleitoral pela televisão justamente sob a alegação de que eles não correspondem à estratégia traçada por ele desde o início da campanha.

A ida para o segundo turno, se acontecer, seria, portanto, uma consequência da campanha como um todo, apesar das críticas que ela vem recebendo de vários setores do PSDB.

O crescimento de Serra no Nordeste, por exemplo, seria consequência das promessas de aumento do salário mínimo para R$ 600 e 13 para a Bolsa Família, promessas demagógicas que teriam efeitos eleitorais nas camadas mais pobres da população.

O senador Efraim Morais (DEM) foi o primeiro a entrar nessa festival de demagogia apresentando o projeto do 13 do Bolsa Família.

Aprovado no Senado, desde novembro de 2006 encontra-se na Câmara dos Deputados para votação. Serra, para não ficar claro que cai em contradição quando apresenta propostas eleitoreiras como essa quando se diz um gestor competente e critica o aumento de gastos do governo federal, alega que sabe onde cortar os desperdícios para viabilizar seus projetos.

Para efeito de provocar impacto no eleitorado, deve dar como exemplo de desperdício do dinheiro público os diversos cargos ocupados por parentes e amigos da família de Erenice Guerra. "Quantas outras famílias petistas não existem espalhadas pela máquina pública", pergunta Serra.

Para poder viabilizar um segundo turno, Serra precisa crescer sobre o eleitorado mais pobre, onde a candidata oficial Dilma Rousseff lidera com grande margem.

Mas quem está mais bem posicionada para pegar uma eventual "onda" de descontentes no eleitorado é a candidata do Partido Verde, Marina Silva, que cresceu em quase todos os segmentos do eleitorado.

Marina saiu de 11% na semana passada para 13%, dentro da margem de erro, mas cresceu mais em alguns setores, como os 8 pontos percentuais entre os que ganham de cinco a dez salários mínimos, que representam cerca de 10% dos eleitores.

Serra subiu outros 6 pontos, e Dilma, por sua vez, caiu dez pontos, o que indica que os dois candidatos da oposição tiraram votos de Dilma e dos indecisos.

No Rio de Janeiro, Marina, pelo Datafolha, subiu cinco pontos e empatou tecnicamente com Serra. Em uma pesquisa do Instituto GPP feita para o PV do Rio, Marina já aparece à frente de Serra no estado.

Os dirigentes do Partido Verde acreditam que essa tendência deverá se repetir em muitas cidades grandes, especialmente em Minas Gerais.

No Distrito Federal, quem se beneficiou com a queda de Dilma foi também Marina, que passou Serra. Os efeitos da crise na Casa Civil foram, para o Datafolha, os responsáveis pela mudança da tendência de parte do eleitorado, mas Marina prefere atribuí-la à sua disposição de discutir programa de governo, sem imiscuir-se na briga de foice entre os dois principais candidatos.

A afirmação de Marina de que a "onda verde" ainda a levará mais longe nesta eleição é baseada em pesquisas qualitativas que mostram uma grande aceitação de sua figura política.

Os verdes acreditam que dois fatores ainda alterarão os resultados das pesquisas até o final da campanha: o voto oculto, e o voto útil.

O voto oculto estaria concentrado nos setores mais pobres da população que, temendo perder os programas assistenciais, anunciam que votarão em Dilma, mas, na verdade escolherão Marina na cabine.

Haveria também o voto dos evangélicos, que estão sendo orientados em diversos pontos do país a não votar em Dilma por que o PT seria favorável ao aborto.

Já o voto útil viria do eleitorado mais esclarecido que chegaria à conclusão de que Marina tem mais condições políticas de derrotar Dilma num segundo turno do que Serra. A conjunção desses fatores levaria a candidata do Partido Verde a um segundo turno.

No lado do PSDB, a torcida é que Marina cresça mesmo, mas não acreditam que ela tenha fôlego para ultrapassar Serra na reta final.

O problema para Serra é que se ele chegar ao segundo turno à custa da subida de Marina, terá que tentar manter o eleitorado da candidata do Partido Verde.

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