24/05/2010
Em privado, Lula avisou aos dirigentes do PT que não vai seguir a política de dois palanques que permeia os acertos com os aliados, sobretudo o PMDB.
Soou peremptório: “Esse negócio de palanque duplo vale para a Dilma, não para mim”.
Ficou entendido que, nos Estados em que houver divisão, só Dilma Rousseff estará obrigada a prestigiar os dois lados.
Quanto a Lula, levará seus 76% de popularidade às campanhas dos candidatos que lhe são mais chegados.
A pretensão de Lula já bateu nos tímpanos dos dirigentes do PMDB. E não soou bem. Longe disso.
Para o principal aliado de Dilma, o acerto nacional passa por um tratamento igualitário nos Estados.
Significa dizer que, se preferir, Lula pode até se ausentar das campanhas locais. Porém...
Porém, se decidir participar, terá de dispensar um tratamento “igualitário” aos dois lados.
Em diálogo com um amigo, Michel Temer, presidente do PMDB e virtual candidato a vice na chapa de Dilma, evocou o caso da Bahia.
“Se Lula gravar uma participação no programa [televisivo] do Jaques [Wagner, do PT] tem de gravar também para o Geddel [Vieira Lima, do PMDB]”.
O critério que Lula fixou para si mesmo conduz a situação diversa. Wagner, petê ligado a Lula por uma amizade de três décadas, teria preferência sobre Geddel.
O que diz Geddel? Em público, nada. Entre quatro paredes, ele ecoa Temer. Afirma que não deseja de Lula senão a paridade de tratamento.
Dono de temperamento mercurial, Geddel diz, longe dos holofotes, que descrê da hipótese de vir a ser preterido na Bahia.
Há dez dias, Dilma esteve em Salvador. Foi prestigiar o ato de lançamento da re-candidatura de Jaques Wagner. Geddel achou natural.
Disse que só estranharia se Dilma, convidada, se negasse a comparecer a um evento do PMDB. Foi tranquilizado por um telefonema.
Depois de dar as caras no ato pró-Wagner, a presidenciável petista apressou-se em tocar o telefone para Geddel.
Segundo apurou o repórter, Geddel contou a correligionários que Dilma assumiu o “compromisso” de comparecer, junto com Temer, à convenção baiana do PMDB.
E quanto a Lula? Distante dos microfones, Geddel diz que o presidente “tem o direito de fazer o que bem entender”. Mas...
...Mas condicionou seus gestos futuros ao modo como será tratado. Geddel resumiu o que pensa numa frase dita em telefonema trocado com um amigo:
“Se houver sacanagem no meio do caminho, ninguém vai poder dizer que fui desleal. Prefiro acreditar que o presidente adotará o melhor posicionamento”.
Nesse mesmo diálogo, Geddel, ex-ministro de Lula, disse o que espera do presidente:
“Não discuto se ele fará uma gravação mais ou menos carinhosa para um ou para outro. Pode até dizer que o Jaques Wagner é amigo dele...”
“...Quero apenas que reconheça que fiz uma boa gestão no ministério [da Integração Nacional] e que, se for eleito, terei um tratamento de aliado”.
No mais, Geddel diz que Lula, se quiser, pode fazer em 2010 o mesmo que fez na eleição municipal de 2008.
Na disputa pela prefeitura de Salvador, o candidato do PMDB, João Henrique, prevaleceu sobre o rival do PT, Walter Pinheiro, numa campanha da qual Lula preferiu se abster.
Lula joga com o calendário e com as pesquisas. A parceria nacional PT-PMDB será selada na primeira quinzena de junho...
...Sua participação nas campanhas estaduais só virá em agosto. A essa altura Temer já será vice de Dilma...
...O presidente imagina que sua pupila estará em ascensão nas sondagens eleitorais. E duvida que o PMDB, por pragmático, se anime a encenar gestos de hostilidade.
O diabo é que o anseio de “tratamento igualitário” não se restringe a Geddel. Espraia-se por todo o PMDB.
O partido de Temer espera que, até as convenções de junho, o PT consiga traduzir o acordo que diz estar definido em termos que possam ser considerados definitivos.
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