A grande mídia mostrando o caminho para o Serra...
Deu em O Globo (Editorial)
Pode ser que a subida da candidata Dilma Rousseff nas pesquisas, confirmada pela última sondagem do Datafolha, e o virtual empate em 37% com o candidato tucano tenham feito José Serra mudar de tática, partir para propostas de real tom oposicionista, abandonando o discurso de continuador da obra de Lula, apenas de forma mais competente. O tom adotado pelo ex-governador de São Paulo na apresentação feita, ao lado de Dilma e Marina Silva, sem debate direto, num encontro promovido em Brasília pela CNI, chama a atenção para a possibilidade da mudança de rumo na campanha tucana. Se ocorrer de fato, ganhará o eleitor.
As promessas, ou defesas de medidas e de políticas feitas pelos três candidatos, abrangeram questões conhecidas e de indiscutível relevância: impostos, gastos públicos, investimentos. É verdade que muito do prometido poderia ter sido executado pelos governos dos quais participaram Serra, Dilma e Marina, todos ministros nas respectivas encarnações governamentais.
Um caso emblemático é o da sempre prometida e nunca realizada reforma de um sistema tributário perverso com o empreendedor, incentivador da evasão por ser bastante oneroso, ingrato para as exportações, e ainda intrincado, confuso, burocratizante.
Na gestão FH, em que Serra foi ministro do Planejamento e, posteriormente, da Saúde, a bandeira foi levantada, porém sem grande empenho do Planalto de então. O mesmo ocorreu na Era Lula, em que Dilma Rousseff ocupou o cargo de ministra de Minas e Energia, antes de assumir a Casa Civil, e Marina Silva tocou a Pasta do Meio Ambiente. Nada também foi feito, tudo ficou, como sempre, na formulação de propostas pela área técnica, sem despertar forte vontade política para executar a reforma.
Se o principal candidato de oposição for efetivamente crítico, ajudará os demais a se posicionar de forma clara diante de temas sérios: como reativar para valer os investimentos públicos na cada vez mais erodida infraestrutura do país; o que fazer para dar eficiência gerencial ao Estado; o manejo da crise fiscal que se desenha como uma possibilidade; e como proteger o país numa conjuntura mundial que pode voltar a se deteriorar.
O esquentamento saudável da campanha poderá coincidir com uma deterioração na Europa, com inexoráveis repercussões em todo o mundo. Por estar em jogo a solvência de países de algum peso, portanto com reflexos no sistema financeiro, há a tendência de haver, como no final de 2008 e início de 2009, um “efeito manada” na fuga de capitais em busca de aplicações mais seguras (títulos do Tesouro americano). A retração dos investimentos europeus no Brasil no primeiro quadrimestre realça os sinais de alerta sobre as contas externas do país. O ponto é, se houver uma nova retração mundial, a margem de manobra fiscal brasileira para se contrapor às forças recessivas é mínima em comparação com 2008/9. Cabe aos candidatos explorar o tema.
O tucanato teria percebido o perigo na continuação do mantra do “tudo vai bem, mas pode ir melhor”. Se vai bem, por que trocar? Se se opõem ao governo, Serra e Marina precisam dizer por quê. E, com detalhes, o que e como fariam melhor. O eleitor que julgue.
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