Da Folha
BENJAMIN STEINBRUCH
Não é fácil presidir um país com o tamanho e com a complexidade do Brasil, mesmo com boas intenções
DENTRO DE DEZ dias estará encerrado seu período no comando do país. Nós todos, que sempre sonhamos com um Brasil desenvolvido e próspero, o aplaudimos quando conseguiu, depois de três tentativas frustradas, chegar à Presidência, com 52,4 milhões de votos.
É justo reconhecer que havia alguns receios, principalmente por causa de seu passado radical e de sua falta de experiência administrativa. Adversários se aproveitaram disso para assustar o país com previsões de catástrofe.
tão, o senhor escreveu uma carta ao povo e prometeu respeitar contratos, combater a inflação e, mais importante, remover obstáculos que impediam, durante longos anos, o crescimento da economia.
Entre as suas promessas, presidente, estavam criar 10 milhões de empregos, incentivar a construção habitacional e apoiar a empresa nacional, pequena ou grande.
Mais do que ninguém, por sua origem nordestina e operária, conhecia os problemas dos pobres. Comprometeu-se a combater a fome que atingia 22 milhões de pessoas e a pobreza, que sufocava 53 milhões de brasileiros.
Lembro-me de que ao lhe desejar boa sorte, escrevi aqui na Folha que sua eleição decorria desses compromissos que não poderiam ser abandonados, sob pena de frustrar o povo que acabara de cativar.
Sua vantagem era a ousadia que desaparecera nos anos anteriores, em que prevalecera a falta de apetite para o desenvolvimento e a acomodação com planos de estabilização monitorados pelo FMI.
Estávamos acostumados a usar a desculpa da falta de recursos para tudo: para a fome, para a violência, para justificar as escolas de péssima qualidade, os juros que esfolavam as empresas, a falta de moradias, a saúde em frangalhos e os buracos nas estradas.
Mas, mesmo com boas intenções, não é fácil presidir um país com o tamanho e a complexidade do Brasil. No começo, talvez para mostrar que não iria flertar com heterodoxias radicais de triste memória, o senhor adotou políticas que mantiveram um jeito muito conservador de conduzir a economia. Depois, houve um momento de decepção, em que poderia ter sido mais duro com desmandos dentro do governo.
Os programas sociais foram muito bem-vindos e tiraram da pobreza 11 milhões de famílias logo no primeiro mandato. Só no segundo, porém, o senhor demonstrou obstinação para adotar a política desenvolvimentista, com a criação do PAC e os investimentos em infraestrutura, ainda que a política monetária continuasse a frear a economia.
Quando veio a crise global, no fim de 2008, sua condução foi correta: redução de tributos sobre itens importantes para incentivar o consumo e a criação de emprego, estímulo ao crédito e outras medidas para fortalecer o mercado interno. Em pouco tempo, depois do susto inicial, o consumo interno crescia em ritmo chinês e o emprego se recuperava, mesmo tendo o Banco Central resistido em usar o instrumento poderoso da redução de juros.
Ao passar a faixa presidencial a Dilma Rousseff, dentro de dez dias, o senhor estará entregando também um país em franco crescimento econômico, com taxa de expansão próxima de 8%, algo que não se conseguia havia muitos anos.
Talvez seja o caso de sugerir a Dilma que faça o esforço que for necessário para manter o país em um ritmo de crescimento parecido com esse que o senhor conseguiu -para isso, ela terá de baixar juros, cuidar do câmbio e reduzir custos para o setor privado. E sugerir também, já que ela é do seu partido, que tente cumprir algumas tarefas que o senhor não conseguiu concluir.
Como brasileiro, agradeço pelo seu empenho nesses oito anos de trabalho. Espero que sua sucessora, a primeira mulher a ocupar a Presidência, tenha a coragem de assumir, como o senhor o fez, um projeto de desenvolvimento nacional.
BENJAMIN STEINBRUCH, 57, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.
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