sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Era Lula

Coluna Ivo Theiss
Luiz Inácio Lula da Silva deixa Brasília com 83,4% de avaliação positiva. Considerando-se seu “desempenho pessoal”, o índice chega a 87%. Lembrando: FHC encerrou seu duplo mandato, em 2002, com apenas 26% de ótimo/bom. A popularidade de Lula é um caso inédito no Brasil. E, no mundo, poucos têm alcançado semelhante aprovação, como mostrou o Santa, quinta-feira.

É cedo para se identificar causas de tão inequívoca aprovação. Não é, com certeza, a percepção de que a economia vai bem. A economia até que não vai mal – embora a gestão tucano-pefelo-petista da política econômica, como no triste período FHC, continue a fazer a alegria dos bancos. O que se diz aqui é que a população, em geral, não pode ter discernimento suficiente para dizer que o governo Lula é ótimo/bom porque, com ele, a economia vem sendo bem administrada. Os colunistas de economia não o têm. Nem mesmo os economistas o têm. Como o “povo” pode tê-lo?

Mas, além de se ter que tomar distância no tempo para avaliá-lo, é preciso identificar a fração da sociedade beneficiada e/ou prejudicada pelo governo Lula. Por sua origem humilde, vir dos grotões, ter sido operário, militado em sindicato e fundado agremiação política de trabalhadores, seria óbvio que Lula, sensível às maiorias que em 2002 ainda viviam em condições precárias, orientasse seu governo em favor de suas demandas. Fê-lo, sim. Não se pode brigar com os fatos. No entanto, também, os interesses de frações privilegiadas da sociedade foram contemplados: como mostrei em novembro, os mais necessitados recebem, na forma de Bolsa Família, muitíssimo menos que o punhado de intermediários de títulos da dívida pública, a título de pagamento por juros/serviços.

A mim agradou a independência do Itamaraty e a aproximação do Brasil com América Latina e África; o fortalecimento da Polícia Federal e a autonomia da Controladoria Geral da União, que parecem ter contribuído para a melhora (ainda que tímida) do país, segundo a Transparency International, no combate à corrupção; e a pulverização das verbas publicitárias, que passou de 499 veículos no período FHC para 8.094.

Mais relevante: deixa para sua sucessora um governo em muito melhores condições que o que recebeu de seu antecessor e um país bem mais otimista que o que herdou oito anos atrás.

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