Pois bem, enquanto o PT mantém suas alfinetadas em José Serra por conta da "bolinha de papel" no Rio, o PSDB deletou a história de seu programa de TV. Sabe por quê? Porque ganhou mais pontos a versão petista de que o incidente foi uma farsa do tucano. Ou seja, o episódio, no fim, estava rendendo mais dividendos eleitorais a Dilma Rousseff do que ao tucano. Pesquisas dos dois lados mostraram essa tendência do eleitorado.
Enfim, o resultado eleitoral do incidente acabou sendo um desserviço à vida política do país. Pelo visto, valeu a pena, para sua candidata, o presidente Lula atacar o tucano José Serra por uma suposta simulação, sem fazer restrições às agressões entre petistas e tucanos. De quem governa o país, o que se espera é equilíbrio e condenações a atos de violência. Não estímulo, ao estilo líder partidário, como fez indiretamente o petista.
O fato é que as pesquisas petistas mostraram que Dilma teria crescido ainda mais nos últimos dias, abrindo uma liderança confortável em relação a José Serra. E um dos motivos desse crescimento seria o que grupos de eleitores teriam classificado como uma "vergonha", a suposta farsa de Serra.
Do lado dos tucanos, os levantamentos internos estariam indicando que a distância entre os dois candidatos é menor do que apontam os principais institutos de pesquisa. Reservadamente, porém, não negam que o episódio da "bolinha de papel" não rendeu os dividendos eleitorais esperados.
Quanto ao episódio, o fato é que, pelas imagens disponíveis, não é possível tirar conclusão definitiva. Não dá para garantir qual versão está correta. Se a da simples "bolinha de papel" quicando levemente na cabeça de Serra ou a de uma fita crepe que teria causado maior impacto no tucano. Do ponto de vista visual, a cena da bolinha de papel tem mais apelo e serve mais ao jogo eleitoral. A da fita crepe não tem a qualidade da outra.
O problema é exatamente esse. A discussão parece ter ficado restrita à bolinha de papel e à fita crepe. Tudo o que aconteceu em volta, de repente, parece ter desaparecido, não ter existido: os empurrões, agressões, as disputas físicas entre militantes petistas e tucanos, um belo mau exemplo de campanha eleitoral. Sem condenações daqueles que deveriam dar o bom exemplo.
O fato é que, no momento, os tucanos estão em busca de um fato capaz de propiciar uma virada na reta final da campanha, que termina no próximo domingo. A mudança de humor no final do primeiro turno, frustrando as expectativas petistas de liquidar antecipadamente a eleição, indica cautela em qualquer análise. As próximas pesquisas darão o caminho da tendência do voto. Daqui até o final da eleição, teremos praticamente uma pesquisa por dia. A conferir.
Valdo Cruz, 48 anos, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia.
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